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Tipo: Tese
Título: Se o senhor não tá lembrado, dá licença de contá: uma abordagem discursiva da experiência de desapropriação
Autor(es): Santos, Paula Perin dos
Orientador: Vasconcelos, Sandra Maia Farias
Palavras-chave: Narrativas de vida;Discurso do desapropriado;Categorização;Rodoanel Mário Covas
Data do documento: 2019
Citação: SANTOS, Paula Perin dos. Se o senhor não tá lembrado, dá licença de contá: uma abordagem discursiva da experiência de desapropriação. 2019. 173f - Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-graduação em Linguística, Fortaleza (CE), 2019.
Resumo: O Rodoanel Mário Covas é um anel viário em fase final de construção no entorno da Região Metropolitana de São Paulo. Para realizar esse empreendimento, milhares de famílias que residiam em áreas do traçado foram desapropriadas, sobretudo os moradores da Estância Jaraguá, bairro situado no subdistrito de Parada de Taipas em São Paulo, capital paulista. Diante disso, esta tese tem por objetivo geral analisar narrativas de vida sobre a experiência de desapropriação, à luz da Análise Fenomenológica Interpretativa e da Semiótica Discursiva, a fim de categorizar o discurso do desapropriado. Para alcançar esse objetivo, optamos por três objetivos específicos, que são: a) Analisar as categorias discursivas subjacentes às narrativas sobre a experiência de desapropriação; b) Investigar as representações do eu/enunciador em relação aos objetos de valor positivo ou negativo com os quais se confrontam; c) Categorizar o discurso do desapropriado. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que se vale da Análise Fenomenológica Interpretativa (SMITH; OSBORN, 2003) e da Etnossociologia (BERTAUX, 2010) para uma abordagem indutiva das narrativas de vida, a fim de chegar às categorias discursivas que emanam de tais textos. Como aporte teórico, recorremos às contribuições da Semiótica Discursiva (BARROS, 2002; FIORIN, 2011), dos estudos da narrativa de vida (MAIA-VASCONCELOS, 2011; PINEAU; LEGRAND, 2012; DELORY-MOMBERGER, 2014; BRUNER, 2014; FERRAROTI, 2014), dos espaços existenciais e dos sentidos do lugar e os não lugares (CERTEAU, 1998; AUGÉ, 2012; PALLASMAA, 2013; BERGSON, 2013; HALL, 2014; REIS, 2017). Os estudos aqui empreendidos nos permitiram observar três categorias discursivas da experiência de ser desapropriado, representadas por três enunciadores: o enunciador desterritorializado, o enunciador territorializado e o enunciador multiterritorializado. O enunciador desterritorializado, desapropriado do lugar de onde se sentia pertencido, passa a viver de lembranças. Tal condição implica na rejeição de tudo o que se relaciona a atual moradia. A narrativa de vida se constrói a partir da premissa de que o lá (moradia anterior) era melhor do que o aqui (moradia atual); já o enunciador territorializado não se sente pertencido à moradia anterior, por isso ser desapropriado é o meio pelo qual adquire os recursos necessários à moradia que deseja. Sua narrativa de vida se constrói a partir da premissa de que o lá (moradia anterior) era ruim, mas o aqui (moradia atual) é bem melhor. Por isso, esse enunciador se sente pertencido à nova moradia. As dificuldades enfrentadas durante o processo são interpretadas como parte de um plano maior para a aquisição da casa dos sonhos. Por fim, o enunciador multiterritorializado não demonstra ter apego emocional ao lugar existencial: nem à moradia anterior, nem à moradia atual, mas à facilidade de acesso à vida urbana que este imóvel pode lhe proporcionar. Sua narrativa de vida se constrói a partir da premissa de que o lá (moradia anterior) era perigoso, mas o aqui (moradia atual) é seguro e “perto de tudo”. Ao optar pelo não lugar, termo que designa os espaços de circulação, os pontos de passagem, o enunciador multiterritorializado renuncia ao sentimento pertencer a um território, preferindo não se apegar a uma residência para estar perto de tudo. Prefere a passagem facilitada e a liberdade do ir e vir, à resignar-se à distância dos grandes centros, às margens da vida social que nos permite a urbanidade.
Abstract: The Rodoanel Mário Covas is an expressway in the final phase of construction around the Metropolitan Region of São Paulo. Thousands of families who lived in areas of the route were expropriated for the construction of this expressway, especially the residents of Estancia Jaraguá, a neighborhood located in the subdistrict of Parada de Taipas in São Paulo, the capital of São Paulo. In face, this thesis aims to analyze life stories about the expropriation experience, through Phenomenological Interpretative Analysis and Discursive Semiotics, in order to categorize the discourse of the expropriated. We have chosen three specific objectives, which are: a) To analyze the discursive categories underlying the expropriation experience; b) To investigate the representations of the self/enunciator in relation to objects of positive or negative value with which they are confronted; c) To categorize the expropriation discourse. It is a qualitative research, which uses the Interpretative Phenomenological Analysis (SMITH; OSBORN, 2003) and Ethnosociology (BERTAUX, 2010) for an inductive approach to life narratives, in order to define the discursive categories present in such texts. We have adopted the contributions of the Discursive Semiotics (BARROS, 2002; FIORIN, 2011), of the life narrative studies (MAIA-VASCONCELOS, 2011; PINEAU; LEGRAND, 2012; DELORY-MOMBERGER, 2014; BRUNER, 2014; FERRAROTI, 2014), of existential spaces and the senses of place and non-places (CERTEAU, 1998; AUGÉ, 2012; PALLASMAA, 2013; BERGSON, 2013; HALL, 2014; REIS, 2017) as a theoretical contribution. In this study, we observe three discursive categories of the experience of being expropriated, represented by three enunciateurs: the deterritorialized enunciator, the territorialized enunciator and the multiterritorialized enunciator. The deterritorialized enunciator, dispossessed of the place from which he felt he belonged, starts to live on memories. This condition implies the rejection of everything that relates to the present house. His life story is built on the premise that the there (previous house) was better than the here (current house). The territorialized enunciator does not feel that he belongs to the previous house, so being expropriated is the means by which he acquires the necessary resources to buy the house he wants. His life history is built on the premise that the there (previous house) was bad, but the here (current house) is much better. For this reason, territorialized enunciator feels that he belongs to the new house. Difficulties faced during the process are interpreted as part of a larger plan for the acquisition of the dream house. Finally, the multiterritorialized enunciator does not show emotional attachment to the existential place: neither to the previous house, nor to the current house, but to the ease of access to urban life that this property can provide. His life history is built from the premise that the there (previous house) was dangerous, but the here (current house) is safe and "close to everything". By opting for no place, a term that designates circulation spaces, crossing points, the multiterritorialized enunciator renounces the feeling of belonging to a territory, preferring not to cling to a residence to be close to everything. He prefers easy passage and the freedom to come and go, rather than resigning himself to the distance of the great centres, to the margins of social life that allows us urbanity.
Résumé: Le Rodoanel Mário Covas est une voie rapide en phase finale de construction autour de la région métropolitaine de São Paulo. Pour réaliser ce développement, des milliers de familles qui vivaient dans les zones du parcours ont été expropriées, en particulier les habitants de l'Estância Jaraguá, un quartier situé dans le sous-district de Parada de Taipas à São Paulo, la capitale de l'État. Dans cette optique, cette thèse vise à analyser des récits de vie sur l'expérience de l'expropriation, à la lumière de l'Analyse Phénoménologique Interprétative et de la Sémiotique Discursive, afin de catégoriser le discours de l'expropriation. Pour atteindre cet objectif, nous avons choisi trois objectifs spécifiques, qui sont: a) Analyser les catégories discursives qui sous-tendent les récits sur l'expérience de l'expropriation; b) Rechercher les représentations du moi/énoncé par rapport aux objets de valeur positive ou négative auxquels ils sont confrontés; c) Catégoriser le discours de l'expropriation. Il s'agit d'une recherche qualitative, qui utilise l'Analyse Phénoménologique Interprétative (SMITH ; OSBORN, 2003) et l'Ethnosociologie (BERTAUX, 2010) pour une approche inductive des récits de vie, afin d'arriver aux catégories discursives qui émanent de ces textes. Comme contribution théorique, nous avons recours aux apports de la Sémiotique Discursive (BARROS, 2002; FIORIN, 2011), des études sur le récit de vie (MAIA-VASCONCELOS, 2011; PINEAU; LEGRAND, 2012; DELORY-MOMBERGER, 2014; BRUNER, 2014; FERRAROTI, 2014), des espaces existentiels et des sens du lieu et des non-lieux (CERTEAU, 1998; AUGÉ, 2012; PALLASMAA, 2013; BERGSON, 2013; HALL, 2014; REIS, 2017). Trois catégories discursives de l'expérience de l'expropriation ont été observées, représentées par trois énonciateurs: les énonciateurs déterritorialisés, les énonciateurs territorialisés et les énonciateurs multiterritorialisés. L'énonciateur déterritorialisé, exproprié de l'endroit auquel il se sentait appartenir, commence à vivre de ses souvenirs. Cette condition implique le rejet de tout ce qui se rapporte à la maison actuelle. Le récit de la vie est construit à partir de la prémisse que le là-bas (maison précédente) était meilleur que l'ici (maison actuelle); déjà l'énonciateur territorialisé ne se sent pas appartenir à la maison précédente, donc être exproprié est le moyen par lequel il acquiert les ressources nécessaires pour le logement qu'il désire. Son récit de vie est construit à partir de la prémisse que le là-bas (la maison précédente) était mauvais, mais que l'ici (la maison actuelle) est bien meilleur. C'est pourquoi cet énonciateur a le sentiment d'appartenir à la nouvelle maison. Les difficultés rencontrées au cours du processus sont interprétées comme faisant partie d'un plan plus large pour l'acquisition de la maison de rêve. Enfin, l'énoncé multi-territorialisé ne montre pas d'attachement émotionnel au lieu existentiel: ni à la maison précédente, ni à la maison actuelle, mais à la facilité d'accès à la vie urbaine que cette propriété peut procurer. Son récit de vie est construit à partir de la prémisse que le là-bas (la maison précédente) était dangereux, mais que l'ici (la maison actuelle) est sûr et "proche de tout". En optant pour le no place, terme qui désigne les espaces de circulation, les points de passage, l'énonciateur multiterritorialisé renonce au sentiment d'appartenance à un territoire, préférant ne pas s'accrocher à une résidence pour être proche de tout. Il préfère la facilité de passage et la liberté d'aller et venir, plutôt que de se résigner à l'éloignement des grands centres, aux marges de la vie sociale qui nous permet l'urbanité.
URI: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/50801
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